Sobre o Reconhecimento de
Resultados de Aprendizagem. Alguns informes das entidades que compõem o Fórum
de C&T
Tendo em vista
informações de que, em algumas bases de nossas entidades surgiram questões a
respeito de uma possível nova retribuição a ser adicionada ao salário de
servidores similar a retribuição de titulação (em matéria salarial) – o chamado
“Reconhecimento de Resultados de Aprendizagem” (RRA) o Fórum de C&T informa
que:
a-) A RRA é um
ponto de pauta até então exclusivo de servidoras e servidores da FIOCRUZ, por
eles decidido após várias assembleias, e encaminhado nas discussões com o
governo pela ASFOC, entidade que representa aquela categoria. A RRA segue
modelo parecido com o do “Reconhecimento de Saberes e Competências”, existente
para professores das carreiras de educação básica, técnica e tecnológica que,
em linhas gerais, permite a percepção de valores remuneratórios similares à RT
por qualificação, mestrado e doutorado, percebidos nas carreiras de C&T (e
também no magistério superior).
b-) Soubemos da
questão da RRA, portanto, pelos colegas da FIOCRUZ, que introduziram a mesma em
sua pauta de reivindicações após discussões coletivas, que levaram mais de um
ano. O longo tempo de maturação de tais discussões naquela instituição co-irmã
foi justificado pelo entendimento da necessidade de se avaliar de maneira séria
e profunda todas as consequências que tal proposta envolve, na medida que
significa mudanças no Plano de Carreiras daquela instituição, com consequências
internas e externas.
c-) Como o Fórum
de C&T, a ASFOC enfrentou uma mesa negocial com pouquíssimo espaço de
negociação, praticamente tendo que realizar propostas de ajustes às tabelas
apresentadas, manu militari, pelo MGI. Em seu Termo de Acordo conseguiram do
governo o compromisso de discussão sobre a RRA, sem data de início de discussão
ou implementação, sem qualquer pré-requisito mínimo para o início dessa
discussão.
d-) No que se
refere à negociação salarial das carreiras de C&T em 2024 – encaminhadas
pelo Fórum, que é o coletivo das entidades representativas dos servidores e
servidoras de nossas carreiras – é preciso que façamos um preâmbulo, para
melhor entender com quem o movimento sindical negocia, ou seja, qual a visão e
propostas da equipe do governo que discute o futuro de nossas carreiras – logo,
de nossas vidas.
Em nenhum momento
durante a última negociação salarial, a chamada RRA esteve na pauta de C&T,
seja da parte do governo, seja de qualquer entidade sindical que participou,
como Fórum, dos debates. Nossa prioridade era garantir o fortalecimento e a integralidade
de nossas carreiras (Gestão, Desenvolvimento Tecnológico e Pesquisa) nos seus
diferentes níveis (superior, intermediário e auxiliar) em virtude das recorrentes e
constantes
ameaças
de uma burocracia anti-servidores (formada, por ironia, em sua maioria por
servidores) que ultrapassa governos, mantendo ao longo dos anos
uma visão limitada de serviço público – visão presente, inclusive, no atual
governo, que se apresenta como “dos trabalhadores”.
Além da luta por
valorização salarial, diminuição do peso da GDACT (e consequentemente aumento
do peso do vencimento básico) e recomposição dos valores de RT e GQ – luta essa
muito prejudicada pela visão fiscalista e pouco aberta ao diálogo da equipe do Ministério
da Gestão/MGI – as companheiras e companheiros do Fórum precisaram, reiteradas
vezes, apontar sua discordância para com a equipe daquele Ministério, que
claramente defende que as atividades da Carreira de Gestão são de caráter
generalista, não devendo ser exclusivas de C&T. Além disso,
a mesma equipe burocrática do MGI defende abertamente a extinção dos
cargos de nível intermediário e auxiliar, pela terceirização das funções ou
substituição das mesmas por IA.
e-) Assim, em nenhum
momento os representantes do governo sinalizaram com a
possibilidade de qualquer nova formatação na tabela de vencimentos
para nossas carreiras. Tendo em vista que essa mesma equipe do MGI pretende
agora discutir “reestruturação das carreiras do serviço público”, e
considerando ainda as visões acima expostas externadas nos espaços de
negociação, o Fórum de C&T teme que essa chamada “reestruturação”
signifique o desmanche de nossas carreiras. Mais uma vez, tentam impor uma
visão burocrática neoliberal de Estado que considera uma “espinha na garganta”
o fato de termos um plano de carreiras que abarca, na mesma estrutura, desde o
auxiliar até o pesquisador titular, e que é fruto da construção coletiva de
trabalhadoras e trabalhadores da área.
Por tudo isso, na
chamada “segunda carta de São José dos Campos” – que estabelece as pautas
prioritárias do Fórum para o ano de 2025, construídas coletivamente pelas
entidades que o compõem – há, entre seus pontos, a defesa da manutenção da
estrutura atual das carreiras de C&T, por entendermos que,
neste momento, a discussão da reestruturação das mesmas desejada pelo governo
não tem por objetivo melhorá-las, mas sim desmontá-las, de acordo com o ideário
burocrático neoliberal.
f-) Sabendo do
surgimento de questionamentos sobre a RRA em diferentes bases de trabalhadoras
e trabalhadores de nossa carreira, as entidades que compõem o Fórum passaram a
estudar coletivamente o tema, analisando suas viabilidades e perigos, a fim de
iniciarem em suas bases conversas sobre o tema – na medida em que sabemos que
qualquer proposta que sinalize melhorias salariais repercute entre os
servidores.
Entretanto, qual
foi nossa surpresa ao descobrirmos que, sem qualquer discussão coletiva de uma questão que
envolve a vida de milhares de pessoas, duas propostas de Emenda
à MP que trata dos reajustes salariais, foram propostas pelo deputado Sóstenes
Cavalcante, do PL do Rio de Janeiro: a primeira, instituindo a RRA para os
cargos de nível superior das carreiras de DesenvolvimentoTecnológico e Gestão
em C&T; a segunda estabelecendo GQ IV e V para os servidores de nível
intermediário.
g-) Claramente
parece que algum servidor ou grupo de servidores, dotados de
voluntarismo e sem qualquer representatividade e responsabilidade com o
conjunto de milhares de pessoas afetadas por nosso Plano de Carreiras,
aproveitou-se do oportunismo de um deputado de ultra-direita, ligado ao
radicalismo religioso, para “acelerar o processo”. Pois cabem aqui, também,
algumas observações.
O deputado
Sóstenes Cavalcante – conhecido por ser o porta-voz de Silas Malafaia no
Congresso Nacional e defender pautas como a criminalização das vítimas de
estupro e a proposta de reforma administrativa que destrói o serviço público –
por seus anos de atividade parlamentar sabe perfeitamente que qualquer
proposta de ato legislativo que crie despesas com mão de obra para o Executivo
é de apresentação exclusiva do Executivo. Em resumo, apresentar
uma proposta que gere despesas para outro poder, sabendo que tal proposta nem
será apreciada, é mero populismo de quem brinca com os
anseios de servidores.
h-) Por fim, é de
se lamentar vivermos tempos onde o voluntarismo de alguns (talvez até bem
intencionado) acabe por ignorar um princípio básico da luta de trabalhadoras e
trabalhadores: a de que a construção de nossas pautas é um processo
coletivo, onde todos podem opinar, tendo acesso às mesmas informações para
construir suas decisões.
Aqueles e aquelas
que, açodadamente, ainda que “bem intencionados”, ignoraram a luta coletiva e, sem qualquer
legitimidade, arvoraram-se ao papel de tomadores de decisão por
uma categoria plural que envolve milhares de pessoas e dezenas de órgãos, que
procurem suas entidades representativas, e façam dentro delas a luta política e
a construção coletiva de nossas pautas.
As entidades que
compõem o Fórum reiteram seu compromisso com o debate democrático e colocam-se
a disposição para promover a discussão coletiva de quaisquer
temas que envolvam nossas carreiras a fim de decidirmos
coletivamente nossa caminhada.
FÓRUM DE C&T
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